28 ▪ SET ▪ 2022

O bambu a favor da humanidade

Durável e abundante na natureza, o bambu, ainda, ajuda o meio ambiente.

O mundo está passando por uma mudança climática sem precedentes e ressignificar hábitos é urgente. Pensar em novas formas para viver que não agrida – ou que agrida menos – a natureza, é condição sine qua non para assegurar a vida como a conhecemos.

Somos oito bilhões de habitantes na Terra e, com tanta gente dependente de recursos naturais, é preciso enxergar novas formas de consumo. E isso, em todos os setores, se faz imprescindível, inclusive na construção civil. Mas, a boa notícia, é que existe luz no fim do túnel. Há diversas opções sustentáveis àquelas que degradam o meio ambiente, e isso vem de longe.

O bambu, por exemplo, uma das plantas mais antigas que habitam a Terra – segundo estudos paleontológicos, data de 65 a 136 milhões de anos e era um dos principais alimentos dos dinossauros – é uma dessas alternativas. Pertencente à família das gramíneas (sim, a mesma família de plantas das gramas de jardim), a espécie soma mais de 1.200 diferentes tipos no mundo e, nas Américas, cerca de 470. Resistência, durabilidade e beleza estão entre as benesses oferecidas pela planta que passou a ser utilizada em diversos fins como na confecção de vasos, cestarias, chapéus, móveis e, até, na arquitetura.

Do que falamos quando falamos do bambu?

O bambu é uma planta que cresce em abundância e, mais que isso, cresce rápido. Algumas espécies, como o endrocalamus giganteus, cresce cerca de um metro por dia e, por isso, as indústrias têm olhado para a planta com mais interesse. Comparativamente à madeira, o bambu seria uma boa escolha para fábricas de papel, assim como na despoluição do ar, uma vez que 48% de sua composição é feita de carbono. Logo, se a planta cresce mais rápido e precisa de mais carbono para se desenvolver, há maior sequestro do poluente, um dos principais gases responsáveis pelo aquecimento global.

Foto: ZS Studio

O paisagista Roberto Riscala, um dos grandes nomes do paisagismo brasileiro, explica: “Para uma árvore ou bambu crescer, certa quantidade de carbono é retirada da atmosfera, e, além do crescimento rápido que favorece a abundância da espécie, outra grande vantagem é que o bambu gera mais O2, o equivalente a três árvores. Algumas podem absorver mais de 12 toneladas/hectare de CO2 e, como é a que tem maior e mais rápido índice de crescimento do planeta – com um ano, a planta já atinge 70% de seu tamanho -, pode, igualmente, ser considerada uma das mais eficientes sequestradoras de carbono.”

Há de se dizer também que a versatilidade do bambu permite um resgate a formas ancestrais e milenares de se construir. E escritórios de arquitetura mundo afora já perceberam e se valeram disso em algumas de suas obras, como o escritório de arquitetura Atelier REP que projetou, em 2015, o Bamboo Garden, na cidade de Chengdu, província de Sichuan, China. Localizado na zona rural, próximo a uma área agrícola, o Bamboo Garden, semelhante a bangalôs, é uma fazenda leiteira e foi pensado para ter proximidade com o processo de produção. No local, com 133 metros de comprimento, há sala de jantar, banheiros e quartos para os trabalhadores, com toda a arquitetura em bambu.

Outro projeto, agora no Vietnã, a casa de boas-vindas Grand World Phu Quoc é mais um exemplo feito com bambu. Assinado pelo escritório Vo Trong Nghia Architects, o “gigante” de 14,8 metros e área útil de 1460 m², foi criado para ser a porta de entrada de um resort na ilha de Phu Quoc. Para essa construção, na qual o escritório usou 42 mil árvores de bambu, elementos da cultura vietnamita o tambor de bronze, símbolos da tradicionais, podem ser percebidos em sua estrutura. Entre as vantagens em usar o bambu como matéria-prima em projetos, destaca-se a questão ecológica, como conta o escritório Vo Trong Nghia. “Ecologicamente, o Grand World Phu Quoc economiza energia, utiliza materiais naturais e sustentáveis ​​de baixo custo (em design e construção), utiliza apenas cordas de paraquedas e estacas de bambu para conectar os talos de bambu. O edifício não utiliza ar condicionado, mas conta com ventilação natural. A luz artificial também foi reduzida para ser usada apenas à noite.”

Arquitetura vernacular

Com base e uso de matérias-primas e técnicas construtivas que priorizam o caráter local, levando em consideração, prioritariamente, a cultura, a arquitetura vernacular se diferencia ao valorizar, também, os métodos e estética tradicionais da região na qual está inserida, como esse projeto em Bali, na Indonésia. Sharma Springs, uma das casas mais emblemáticas da região, projeto do escritório Ibuku, possui seis níveis nos quais se dividem quatro quartos, uma ampla sala de estar e uma entrada em túnel com 15 metros de comprimento. O design da residência é inspirado na flor de lótus, um dos símbolos da cultura local e os 750m² unem técnicas tradicionais utilizadas tanto pelos artesãos locais quanto pela moderna engenharia civil. É o passado e o presente, juntos, na construção de um futuro sustentável, preservando a memória e priorizando a vida.

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