“De tanto ver, a gente banaliza o olhar – vê… não vendo. Experimente ver, pela primeira vez, o que você vê todo dia, sem ver”. As palavras do poema “Ver vendo”, escrita pelo poeta Otto Lara Resende resumem bem as inspirações da arquiteta e designer Carol Gay, na sua cocriação com Decortiles em 2024. 

A coleção autointitulada traz uma linguagem moderna em contraste com a beleza do natural e o ritmo frenético da vida contemporânea em metrópoles como São Paulo. Reinterpretados de maneira autoral, essa fusão de ideias celebra as formas orgânicas e simétricas encontradas em materiais ousados e singulares. 

Carol Gay explora o pensamento criativo em peças que dialogam com uma estética disruptiva e vanguardista da Decortiles. A explosão de cores, formas e texturas carregam a identidade das suas criações como designer. “Busco esse olhar, fazendo uma análise não só da forma, mas também como isso pode transformar as peças. A peça não acaba ali no material pronto, vai além”, comenta a arquiteta e designer.

Nas cinco séries que compõem a coleção, Carol Gay se inspira na complexidade geométrica dos traços urbanos; nas formas orgânicas e naturais do movimento biofílico; no resgate das técnicas artesanais; nas tecnologias afetivas e na volumetria de produtos que revelam superfícies únicas e surpreendentes. 

Na série Bola, as formas retrôs ganham destaque. São inspiradas nas obras de Tarsila do Amaral, Yayoi Kusama e Athos Bulcão, que são referências artísticas de sua formação, mas também inspirado no vaso Bola – peça ícone de sua coleção de vidros soprados. Os revestimentos possuem cores saturadas e formas esféricas que possibilitam paginações livres para um efeito moderno e maximalista.

Para a série Traço, o olhar atento da arquiteta ressignificou os movimentos frenéticos do asfalto e dos elementos urbanos. Objetos como bueiros e bocas de lobo, que passam muitas vezes despercebidos pelo olhar, inspirou o conceito por trás da coleção. Os relevos das cidades são marcados em linhas cruzadas com uma paleta de cores afetivas e um design urbano. As peças, além de modernas, maximalizam a experiência do toque por seu relevo artístico.  

Para a série Lascas, outro lançamento da coleção Carol Gay, o mundo digital é deixado de lado para dar lugar a uma criação mais genuína, onde o trabalho manual ganha protagonismo. A superfície é um resgate ao rústico, a beleza das texturas, dos relevos desenhados e dos efeitos que valorizam cada peça como única e individual. 

Unido ao solo fértil das cidades cosmopolitas, Raízes reinterpreta a busca pelo bem-estar natural em uma vida agitada. O conforto sensorial e os relevos biofílicos proporcionam um design orgânico e sinuoso – uma ode à pureza material e a delicadeza existente no brutalismo contemporâneo.

Entre contrastes estéticos e referências naturais, a poesia existente na coleção Carol Gay revela a magnitude de traços particulares do seu trabalho para uma criação com um olhar mais atento. É despertar a curiosidade que pode ser observada em tudo o que nos cerca.