Natasha Schlobach conta os destaques da ArPa e MADE 2025
Mais que uma feira, um encontro imersivo entre arte, design e pensamento contemporâneo.

São Paulo recebeu entre os dias 28 de maio e 01 de junho, a quarta edição da ArPa e a décima terceira edição da MADE, reunindo na Arena Pacaembu, o que há de mais relevante na arte contemporânea e no design colecionável – com a união de arte e design – a experiência transcende a simples visita a uma feira e se consolida como um manifesto sobre estética e processos.
O evento ocupa uma área total de mais de 9 mil m², recebe mais de 60 galerias de arte, cerca de 50 estúdios de design e deve atrair um público superior a 10 mil visitantes, entre colecionadores, arquitetos, designers, curadores e amantes da estética.

A união entre ArPa e MADE reflete uma movimentação relevante no mercado, onde arte e design compartilham o mesmo espaço físico e simbólico. Uma feira que não apenas exibe objetos e obras, mas que cria pontes entre o fazer, o pensar e o viver. Estar presente neste contexto é fazer parte de uma rede pulsante de criatividade, onde o Brasil ocupa, com orgulho, um lugar de protagonismo no cenário global.
Na ArPa, a curadoria se debruça sobre uma seleção rigorosa de galerias nacionais e internacionais, que trazem obras que tensionam tempo, matéria e linguagem. O setor UNI, com curadoria da colombiana Ana Sokoloff, reúne 12 exposições individuais, mesclando seis galerias brasileiras e seis internacionais, e se firma como um dos pontos altos da programação. Além das galerias, a feira apresenta uma série de experiências paralelas, como visitas guiadas e ateliês, conversas com artistas — incluindo nomes como Beatriz Milhazes — e ativações que aprofundam o entendimento sobre o cenário da arte contemporânea latino-americana.

Na MADE — Mercado, Arte, Design —, que chega à sua 13ª edição, o design brasileiro é celebrado em sua pluralidade. O evento se consolida como a principal plataforma de design colecionável da América Latina, reunindo designers, estúdios, galerias e marcas que compartilham um compromisso comum: a valorização do fazer manual, da matéria-prima nacional e do design autoral. Metade dos expositores são novos talentos, estreando no circuito com propostas que mesclam tradição e inovação. As criações transitam entre o funcional e o escultural; onde a cerâmica, a madeira, a pedra, as fibras naturais e os metais se tornam veículos de narrativas que atravessam gerações.
ArPa 2025
Logo ao adentrar o subsolo da Arena Pacaembu, a atmosfera da ArPa se revela como um território onde a matéria pulsa, carrega histórias e estabelece pontes entre tempo, memória e linguagem. O espaço — de arquitetura brutalista e concreto aparente — se transforma em palco sensorial para obras que tangibilizam a complexidade da arte contemporânea latino-americana.
Na Galeria Leme, a artista Germana Monte-Mór, do Rio de Janeiro, provoca o olhar com trabalhos entre geometria e orgânico que investigam fronteiras entre natureza e artifício. Seus gestos manuais, seus traços orgânicos e suas camadas pictóricas reverberam uma poética que fala de territórios, de cartografias íntimas e de deslocamentos.

A ancestralidade africana ganha protagonismo no stand da Galeria Albuquerque Contemporânea, de Belo Horizonte. Suas obras carregam códigos, gestos e referências que atravessam gerações, reverberando uma presença que é tanto física quanto espiritual. É o passado ressignificado em matéria contemporânea.
Na Galeria Luis Maluf, o encantamento se manifesta na obra de Fernanda Pompermayer, que desenvolve peças em edição única, combinando cerâmica esmaltada, vidro, cola, resina, ouro e madrepérola. Texturas, brilhos e opacidades se encontram, criando uma superfície sensorial que evoca tanto fragilidade quanto força. Ao lado, uma obra de Shizue Sakamoto traz a delicadeza do azul como campo de expansão poética.
Outro ponto alto é a série de Saulo Szabo, na Galeria Lume, que traz uma pesquisa profunda sobre técnica, textura e materialidade, que possui como matéria prima a Terra; o tema se aprofunda ainda mais em sua entrevista, que revela processos, escolhas e reflexões sobre a tridimensionalidade no campo da arte.

A internacionalização da feira se confirma no stand da Galeria Cott, de Buenos Aires, que apresenta um solo da artista Agostina Branchi. Suas tapeçarias rompem com a ideia tradicional do têxtil e adentram ao campo escultural, funcionando como campos cromáticos que, ao mesmo tempo, são desenho, textura e volume.
Entre os destaques nacionais, o solo de Monica Ventura, na Galeria Nara Roesler, se impõe. Suas peças atravessam a fronteira entre escultura e instalação, uma vasta pesquisa sobre Iansã – orixá; explorando tensões entre matéria e vazio, luz e sombra — diálogo que se desdobra também na potente fala da artista sobre seus processos.

A artista Shirley Paes Leme provoca o pensamento com uma obra em bronze, instalada no espaço da Galeria Raquel Arnaud — uma frase cravada no metal que ecoa como manifesto e silêncio, simultaneamente.
Na Coral Gallery,
as esculturas de Roberto Vivo — em
bronze, latão e mármore — anunciam o próximo capítulo de sua carreira: uma
instalação confirmada para Inhotim em 2026. Suas peças são quase organismos
vivos, tensionando peso e leveza, o bruto e o delicado.
Por fim, o hiperrealismo de Giovani Caramello nos confronta. Suas esculturas têm uma qualidade
quase desconcertante, onde pele, músculo e expressão tornam-se matéria poética,
mas também desconforto e reflexão.