MADE 2025: o design brasileiro entre matéria, memória e desejo
Continuação da cobertura ArPa + MADE: a força do design autoral e sua relação com o território

Em sua 13ª edição, a MADE se reafirma como vitrine do design colecionável brasileiro — com forte presença da madeira, cerâmica, bordado, vidro e impressão 3D. Sob a curadoria de Waldick Jatobá e Bruno Simões, e ao lado da ArPa no Mercado Livre Arena Pacaembu, o evento convida a olhar a matéria com outros olhos — escutá-la, manipulá-la, ressignificá-la.

Substrato: da ideia à matéria
O tema da edição 2025 — Substrato: da ideia à matéria — já se anunciava na cenografia do evento, que simulava uma cadeira sendo produzida em CNC, remetendo ao fazer industrial, mas também artesanal.
Ao cruzar a arquitetura icônica do Pacaembu, a MADE se impõe como território onde o design brasileiro revela toda a sua potência: material, simbólica e afetiva. Mais do que objetos, o que se vê são declarações — sobre ancestralidade, território, processos e futuro.
Entre escultura e funcionalidade: madeira em destaque
A madeira aparece em peso nesta edição, como linguagem, gesto e manifesto. Patrick Afornali apresentou peças brutas que reverenciam o fazer manual e a natureza em sua forma mais honesta — quase artefatos.
Vinicius Siega esculpiu curvas precisas em madeira maciça, explorando a tensão entre o bruto e o ergonômico, peso e leveza. Murilo Weitz seguiu pela pesquisa com fibras naturais e tramas que remetem ao tear ancestral, numa linguagem que pulsa entre o passado e o agora.

Cerâmica, latão e calor: alquimia visual
O estúdio Curiosa deu novo fôlego à cerâmica de alta temperatura, com luminárias e arandelas esmaltadas em tons vibrantes, somadas a apliques em latão. O resultado é uma superfície visual rica, tátil e sofisticada.
A Olar Design apresentou a coleção Encontro de Raízes, unindo cerâmica, mármore e latão — peças que se tornam verdadeiros mapas afetivos, topografias materiais que dialogam entre si.
Antonio Pulquerio explorou pigmentos minerais em alta temperatura, vitrificando superfícies entre o brilho do vidro e a rusticidade da argila — uma fusão poética.

Do litoral ao sertão: narrativas de território
Do Ceará, o Adamo Studio levou para a feira a poética do mar nordestino, tingindo madeira e esculpindo bancos com referências ao vento, ao sal e à paisagem. Um design que carrega o território em cada linha.
Vidro, impressão 3D e fluidez
O vidro também ganhou protagonismo com o trabalho sensível de Patricia Faragone, que captura transparências e opacidades como quem fotografa o instante entre o líquido e o sólido.
O F.Studio explorou a multiplicidade da matéria com peças em latão, vidro e impressão 3D — como a arandela de parede, que reúne precisão tecnológica e apelo artesanal.
Já a luminária biomimética Anêmona, desenvolvida por Dua.dsg + Una Ambientes, se inspirou nos corais e seus movimentos orgânicos para criar formas vivas com cerâmica, latão e impressão 3D.
Afeto e memória costurados à mão
O bordado apareceu como gesto de resistência e poesia no Estúdio Pedro Luna, em parceria com a Cooperativa Artilha (AL). A coleção Boa Noite mistura o fazer ancestral com a linguagem do design industrial contemporâneo.

O cotidiano ressignificado em mobiliário
Guilherme Sass (Casa na Árvore) e Marcus Camargo também usaram a madeira como linguagem de afeto. A linha Fornada de Marcus evoca a memória das empadinhas goianas em formas que abraçam o cotidiano.
Pedro Leal apresentou uma peça lúdica que explora linhas estruturais e matéria bruta, enquanto Dimitrih Correa tensionou madeira e inox, criando contraste entre o quente e o frio, o orgânico e o industrial.
O delicado Bar Bordado de Linda Martins resgata a hospitalidade e a memória familiar em um móvel que emociona. Estúdio Carmine apresentou móveis de precisão escultórica, enquanto Ricardo Bueno incorporou a técnica ancestral Shou Sugi Ban, onde o fogo eterniza a madeira.
Colaborações, lançamentos e pluralidade
A MADE também foi palco de colaborações inéditas. A Três Arquitetura lançou a linha Mykonos em parceria com a Vali Cerâmicas, unindo traço arquitetônico à fluidez da cerâmica artesanal.
Estúdios como Assimply e Estúdio Geo completaram o retrato plural do design brasileiro contemporâneo — que é, ao mesmo tempo, ancestral, tecnológico e sensível.
Design brasileiro: um momento vibrante
A edição 2025 da MADE termina com a certeza de que o design brasileiro vive um de seus momentos mais vibrantes. Um design que não apenas observa a matéria, mas a escuta — e, através dela, projeta futuro, identidade e desejo.